Alguma utilidade?

Apenas um pouco do que escrevo. Gotas da pretensão que assombra a juventude: a maldita idade lírica, da extrema eloquência com a grande arrogância. Resta apenas desorientação.

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domingo, 4 de setembro de 2011

A Questão insolúvel


Por errar caminhos, perdi-me de mim. E enquanto observo a realidade congelada dos dias que se arrastam apenas com aridez e tédio empoeirado, penso de novo em tudo que não foi. A vida que não foi é tão sublime e bela, que sempre decido vivê-la. Por vivê-la demais, cheguei aqui. Nunca estive tão longe dela. Nem de mim.
Meus tempos de “novo tempo”, de crer que o presente é apenas o ensaio para o grandiloqüente espetáculo que ainda virá, estão se esgotando. E aí crescer não é expectativa, mas enfado doloroso.
Com a vista turva, caminho solene e trôpego por entre gentes e lugares com os quais não irmano. Há rostos distorcidos, mão avulsas gesticulando, espaços de inocência que se volatilizam e nuvens pesadas de dor. Soberana, a dor impera. E dissolve: eu e a vida que tenho. Pobre de mim, ainda resta a vida que nunca terei, intacta e fulgurante, a zombar do homem que não soube e nunca saberá construí-la.
Vou alugá-la por um tempo, alugar o eu mesmo que perdi. Quem sabe assim, minha cota mensal de redenção compre provisoriamente um pouco dos planos que fiz, refiz e sonhei para mim. Mas bem, talvez “comprar” não seja um bom verbo. Alugar não é comprar e locatário é proprietário incompleto. Assim, sigo com a vida alugada condenada à incompletude perpétua? Ou escolho o não? Não apostar no planejado, aceitar o “tudo fora de lugar” e arrastar os anos vindouros numa vida clandestina, tão alienada de mim mesmo? Eis a questão insolúvel.