Alguma utilidade?

Apenas um pouco do que escrevo. Gotas da pretensão que assombra a juventude: a maldita idade lírica, da extrema eloquência com a grande arrogância. Resta apenas desorientação.

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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sobre o admirável mundo novo

No admirável mundo novo, ouvimos “Radio Ga Ga” em “Ipods”reluzentes e nem nos damos conta do tamanho da ironia que há nisso. E nas cidades grandes passeamos no meio de um show de vitrines coloridas, espreitando mil reflexos do ego: maximizamos o “eu”, mas precisamos domar seus fantasmas com pílulas demais de Prozac.
No admirável mundo novo, nossos fins de semana promissores terminam em metrôs lotados às sete da manhã, sob o signo da embriaguez de fins de festas, com a solidão dilacerante ditada pelo barulho da máquina e o profundo desejo de desligar.
No admirável mundo novo, falamos de diversidade e construímos pontes, mirando grandes transformações. É fácil ir, é fácil vir e é normal rir escandalosamente do que não se enquadra, do que não cabe na multidão anônima, enfurecida, entediada e obscenamente homogênea.
No admirável mundo novo, acreditamos um dia que faríamos diferente de nossos pais. Mas no admirável mundo novo perdemos tanto tempo maldizendo a heranças de nossos pais que esquecemos de construir a nossa. Aliás, no admirável mundo novo não importa muito o que fica, tampouco o que passa, mas apenas aquilo que eternamente virá. E será construído por nós, embora não agora: somos jovens demais, temos tempo demais.
No admirável mundo novo, ensinaram-nos que é belo ser jovem e é belo ser destrutivo. Destrutivo, porque jovem, entenderíamos a vida em sua intensidade e beleza e acharíamos o caminho da liberdade. Mas chega uma hora em que intensidade também entedia e, no admirável mundo novo, curamos o tédio com mais tédio em escritórios apertados e promessas futuras de grana e glória.
No admirável mundo novo, é meio ridículo ser sonhador. E é fácil ter muitos projetos e perdê-los pelo caminho. Há velocidade demais no admirável mundo novo e aprendemos a deleitar-nos com o desmanchar-se constante de tudo que é sólido, com o espetáculo voluptuoso da civilização ensinando-nos a acompanhar o girar ininterrupto das engrenagens.
E há tantas coisas admiráveis no admirável mundo novo que estamos constantemente obcecados em contemplá-lo e asfixiar-nos nele. Eternamente Narcisos, convictos da imensa beleza de nosso progresso, mais irmãos do concreto e do silício do que do próprio ser humano.