Alguma utilidade?

Apenas um pouco do que escrevo. Gotas da pretensão que assombra a juventude: a maldita idade lírica, da extrema eloquência com a grande arrogância. Resta apenas desorientação.

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domingo, 27 de maio de 2012

Depois de nós

 E porque de repente deram de me perguntar o que éramos nós. Na hora, percebi que não sabia. Mas algumas semanas depois, a compreensão invadiu-me violentamente. Nós (ou, pelo menos, o melhor de nós) somos uma noite fria de sábado no bar mais calmo da rua mais agitada da cidade mais desembestada do país. Somos essa dimensão apartada do tempo-espaço, nem fora nem dentro do girar voraz da vida real.
 E na minha mente, os versos da música “Paciência”, do Lenine: não é que a vida peça um pouco mais de calma. A vida se gasta em caos e sabemos que isso é inevitável. Contudo lá, nesse momento, nós conseguimos ser, sem medo do verbo de estado mais permanente, ainda que cientes da efemeridade da situação.
  E somos tudo: os mesmos velhos e empoeirados sonhos de infância, as cansativas utopias de adolescência, as desilusões de sempre a encarnar em cada espaço vazio... Agora, e pela primeira vez (será a última?), não os preenchemos (os vazios) todos com palavras.
 E, sobretudo, somos a beleza preservada de tudo que poderíamos ser se fossemos nós. Preservada, porque hipotética: quente na noite mais fria do ano, harmoniosa em meio ao vão movimento frenético. Gosto de nós assim, ininterruptos em cada estado de alternância.
Mas, depois de nós, ainda há a vida real. E nela, a todo o momento, só sei me perguntar: o que há depois de nós?