Ainda ontem
você me perguntou por que eu era sempre tão melancólico e eu não soube
responder, justo eu, que sempre julgo ter a resposta certa para tudo, mas, veja
bem, de melancolia só sei que dói ainda mais fundo na alma depois que perdi a
crença em almas, como também sei que me alimenta e vivo sempre satisfeito com
minha porção diária de tristeza, minhas várias imagens do sol se pondo no fim
dos prédios, no céu alaranjado preguiçoso e sem esperança e na certeza de que
morrer seria mais fácil, contudo, eu quero viver, eu gosto da vida e acho que
vou fazer coisas úteis ainda, então percebo que isso que me faz querer viver é
arrogância, daí quero morrer de novo e você fica cansada de toda essa ladainha,
eu sei, meu amor, o que fazer com tantas perguntas, apenas devia te abraçar, te
acariciar, transar e me calar, até porque são as mulheres que deviam falar e
chorar, segundo a tradição patriarcal ocidental na qual me educaram sem eu pedir,
antes eu acreditava tanto nas respostas, não sei quando comecei a flertar com
as perguntas e elas foram ficando mais sedutoras e eu mais no fundo do aquário,
mais seco imerso mar, mais ofegante no meio da corrida, e eu sei que me
avisaram para ir devagar, para tomar fôlego às vezes, só que eu achava que esta
era uma prova de cem metros rasos, eu dava conta sem parar, mas depois vi que a
vida é uma prova sem marcação de distância, ela transborda para todos os lados
e só acaba quando você decide levantar para respirar.
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