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Apenas um pouco do que escrevo. Gotas da pretensão que assombra a juventude: a maldita idade lírica, da extrema eloquência com a grande arrogância. Resta apenas desorientação.

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terça-feira, 14 de junho de 2011

Sobre a Cidade Maravilhosa

E no mar estava escrita uma cidade.” Depois Drummond, nada mais deveria ser dito. Mas a gente tem mania de dizer o que não deve, então completo: e depois do Rio, nenhuma outra foi escrita. Não havia traçados melhores. E o mar se impôs, irresoluto em sua completude. Dele é a matéria de que é feita toda a Cidade Maravilhosa.
De mar é o burburinho que se eleva das ruas, a conversa quente e abafada no centro pulsante. Tem cheiro de mar a história marcada em cada um dos monumentos históricos.
De mar é a favela que se acende à noite, irregular como o formato das ondas: sempre indiferentes e magnetizadas pela praia. De mar é o jeitinho carioca, embrião do brasileiro, vago, manhoso e meio traiçoeiro, como o movimento das marés.
De mar é o calçadão de Copacabana, mar que invade o concreto, está nas havaianas e bermudas. Ipanema, suas muitas garotas, seus hotéis também: inacessíveis e desejados como o mar. De mar é o céu alaranjado avistado no mirante do Leblon, o Pão de Açúcar sendo engolfado pela escuridão da noite. E o Corcovado, solitário. Como o mar.
A Barra, sua classe média meio insegura: tem o mar na barriga. Tem mar nessa multidão de múltiplas origens, furiosa e arrebatadora.
De mar é o Cristo, braços abertos, decidido a abraçar o próprio mar, certo da sua impotência ante a hercúlea tarefa. E se cala. Cristo e o mar. Também não acreditam na beleza do que fizeram. Preferem não falar. E a serenidade de seu silêncio é a mais expressiva descrição da Cidade Maravilhosa.

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